4. Bauhaus
4.1 As Origens
Em
1890 a Alemanha acelera a industrialização para competir com Inglaterra a a
França. O clima político era fortemente nacionalista, de muito movimento
cultural e procurava-se uma linguagem estilística que fosse adequada ao
prestigio da Alemanha. Arquitetos como
Richard Riemerschmid, que
foi parte do movimento modernista na Alemanha, defendiam a idéia de que o
design devia acompanhar a produção industrial pois acreditava-se que a única
forma de fazer os produtos acessíveis à sociedade trabalhadora era a
produção em massa. Esta era a diferença filosófica da Alemanha frente aos
movimentos da Inglaterra e da França (Arts & Crafts e Art Nouveau).

Bruno Taut, pavilhão em
vidro para a exposição do Werkbund, Colônia, 1914
Esta preocupação levou á fundação da "Liga Alemã de Oficinas", a Deutsche
Werkbund (DWB) em 1907 em Munich sob a liderança do arquiteto Hermman
Muthesius, introdutor dos jardins ingleses do movimento Arts and Crafts na
Alemanha, com o objetivo de assegurar a supremacia alemã como potencia
comercial. Faziam parte desta liga arquitetos, artistas, artesãos,
industrias e jornalistas que se propunham estreitar as relações entre as
artes, a industria e o comércio de manufatura artesanal por meio da educação
e o trabalho publicitário. Entre as propostas da DWB estava a a padronização
das partes construtivas dos objetos, o design corporativo e a reforma social
e cultural através do desenvolvimento da indústria moderna. Procuravam uma
maior coordenação entre os atores de cadeia produtiva e o desenvolvimento da
tecnologia aliada ás artes. No espírito
positivista o pensamento da DWB se sustentava na idéia, (inspirada em
Louis Sullivan) de que "a forma segue á função" onde a forma
corresponde ao trabalho artístico e a função ao trabalho dos operários
industriais. Neste caso a arte se encontrava subordinada ao interesse
industrial.
Peter Behrens
foi um dos fundadores e mais destacados arquitetos da DWB, considerado o
primeiro designer industrial porque foi o primeiro a criar uma identidade
corporativa que compreendia o design da imagem empresarial. O mais conhecido
é o trabalho que realizou para a fábrica de material elétrico AEG (Allgem
eine Elektricitats Gesellschafft). Desde a arquitetura da fábrica, as
ferramentas, máquinas, passando pela logomarca e pelos objetos como relógios
ou chaleiras foram desenhados com a imagem corporativa da AEG.

Peter Behrens, Fábrica de
Alta Tensão, AEG 1910 e Industrias Höschst
Até a I Guerra Mundial a DWB se manteve
muito ativa influenciando outras escolas na Alemanha com a idéia de
reconciliar a arte com a máquina. Em Weimar, Henry van de Velde, destacado
arquiteto e designer belga do movimento Art Nouveau fundou a Escola de Artes
e Ofícios de Weimar para artesãos e existia a Academia de Arte de Weimar que
valorizava a expressão e individualidade artística modernas. Antes de
estalar a guerra van de Velde tinha sido demitido por causa das tendências
xenófobas e o arquiteto Walter Gropius tinha sido recomendado, mas não
assumiu porque foi, como outros artistas, para a guerra e a Escola foi
fechada. Ao mesmo tempo Gropius defendia, no meio da guerra, aumentar o
curso de arquitetura e design industrial na Escola de Artes de Weimar.

Antiga Academia de Arte de Weimar
Quando a
guerra terminou foi aceita a proposta de Gropius e convidado para dirigi-la.
Ele propôs então reviver a Escola de Artes e Ofícios unida à Escola de Artes
de Weimar. Assim foi inaugurada em 1919 a primeira e mais importante escola
de Design como o nome de Bauhaus (casa da construção ou arquitetura)
Estadual de Weimar.
Nenhuma
escola do século XX ou de tempo anterior foi tão rica em conseqüências e
tão visionária como a Bauhaus. Moldada num contexto que por uma parte
valorizava a tecnologia da era industrial e por outro a expressividade
humana foi uma escola transdisciplinar. Entre a tragédia da guerra e a
crença utópica de una sociedade perfeita o espírito alemão encontrou na
Bauhaus a resposta contra a demência da violência. Mas a sua vida foi curta,
o suficiente para revolucionar o pensamento do século XX no campo da arte,
da arquitetura, do design, da educação, da indústria e da economia. Em 1933
foi fechada pelo exército do Terceiro Reich, na Alemanha de Hitler.
Mas antes de
conhecê-la é importante conhecer também o pensamento estético moderno que
subjaze nas suas origens e que determinou o funcionalismo do design no
século XX.
4.2. O
Racionalismo
O Racionalismo
foi uma tendência arquitetônica moderna internacional que se originou no
pensamento de Louis Sullivan e nas correntes abstratas da arte moderna como
o Cubismo, o Construtivismo Russo e o grupo De Stijl estendendo-se em toda a primeira metade do
século XX. Os arquitetos racionalistas priorizavam o planejamento urbano e
seguiam os princípios gerais do Racionalismo: máximo de economia, resposta
ás exigências próprias do contexto, uso de recursos tecnológicos
industriais, pré-fabricados e padronizados, alta qualidade, condição de
progresso social e democracia, e no campo formal ordem, claridade, simetria,
lógica e simplicidade.
O Racionalismo
se apresentou com variações em diferentes lugares:
a) O Racionalismo
Formal, liderado pelo arquiteto Le Corbusier na França para quem a
arquitetura fornece a condição natural e racional à existência e a forma
artística o é resultado lógico de um problema bem formulado. Este equilíbrio
entre natureza e história humana se traduz no "modulor" como medida humana
para a construção do espaço habitável. esta tendência procura a claridade da
forma clássica e como o Cubismo funde o fundo e a figura numa unidade (para
a arquitetura natureza e sociedade). "A casa é uma máquina para viver".

Le Corbusier o "Modulor"

Le Corbusier, projeto para
cidade contemporânea de 3 milhões de habitantes
b) O Racionalismo
Ideológico, liderado pelo arquiteto e artista El Lissitsky na Rússia
ambientado no espírito racionalista revolucionário do Construtivismo onde a
arte esta ao serviço da construção da sociedade e a arquitetura a imagem
símbolo do socialismo que se constrói. Nesta rama do Racionalismo a teoria
da forma é a teoria da comunicação social.

Número da revista Merz,
desenhada por El Lissitzky
c) Racionalismo
Formalista liderado pelo artista Piet Mondrian e o arquiteto Theo van
Doesburg da corrente artística De Stijl, para os quais "o objeto da natureza
é o homem e o objeto do homem é o estilo (stijl)". Para esta linha de
Racionalismo a arte deve ser feita em total estado de "imunidade histórica"
para eliminar as formas históricas impuras como um processo de purificação
externa, acreditando assim na pureza do ato construtivo e coincidindo com o
Dadaísmo no fato de recolocar a arte no ponto de partida de algo
inteiramente novo.

Theo van Doesbrurg, "Contra-construção"
projeto 1923
d) Racionalismo
Empírico liderado pelo arquiteto Alvar Aalto nos Países Escandinavos
substitui o conceito de racionalidade por razão argumenta que deve se
conservar a raiz do desenvolvimento histórico. Esta linha de Racionalismo
carece de princípios políticos, teóricos ou de fórmulas compositivas, mas
procura a precisão no projeto, é racionalista na prática.

Alvar Aalto
Biblioteca Viipuri
1927-1935
e) O Racionalismo
Orgânico liderado por Frank Lloyd Wright nos Estados Unidos, que como
havíamos visto antes, propõe uma relação orgânica entre a natureza e o
ambiente de vida formando um sistema (influenciado pelo seu contato com a
cultura oriental pós guerra). Desta maneira se considera o espaço como um
campo de forças e não como uma relação de grandezas e a arquitetura como
ação de um sujeito e não como determinante de objetos. A arte forma um
sistema entre a realidade natural e cultural.

Frank
Lloyd Wright, Casa Kaufmann ou Casa da cascata 1937
Continua 4.3. A Bauhaus
►
Fontes:
BURDEK, Bernhard E. Diseño: Historia, teoría y práctica del diseño industrial. Barcelona: Gustavo
Gili, 1994..
ARGAN, Giulio
Carlo. Historia da Arte Moderna, do Iluminismo aos Movimentos
Contemporâneos Companhia das Letras, São Paulo, 1992.