3. Arquitetura e Design
3.1
A virada do século: 1890 - 1910

Ruas de Londres, finais do século XIX
A
Revolução Industrial do século XIX trouxe tantos avanços como graves
problemas urbanísticos de qualidade e de quantidade causados pelas mudanças na estrutura social,
econômica e cultural.
Se extinguiram velhas classes sociais, artesãos e pequeno comércio. As
migrações às cidades grandes, o surgimento de fábricas e o crescimento
populacional era incompatível com a velha estrutura das cidades comunitárias
A estrutura destas cidades pouco tinha mudado desde a aparição dos grandes
burgos que cresceram de forma lenta desde o Renascimento: as ruas pequenas e
as edificações antigas não suportavam mais tanta mudança. A pobreza se
estendia desordenada ao redor dos centros urbanos enquanto crescia o
trânsito de veículos e pessoas nas ruas.
Os arquitetos foram
chamados a resolver estes problemas com a construção de bairros para os
operários das fábricas e na remodelação da estrutura de vias e estradas.

Mas as soluções
respondiam a interesses de classe. Nos bairros ricos na moda Art Nouveau se
abriram novas vias de trânsito e se ampliaram as principais avenidas onde o
comércio crescia. Elegantes ruas e lojas se abriam e novos edifícios
modernistas se construíram nos centros mais ricos. Em contraste, os bairros
para operários ao redor das fábricas careciam do luxo e glamour da Belle
Epoque. Ruas estreitas e sujas sem saneamento e com bicas de água
compartilhada, casas geminadas com sistema de fossas, rios poluídos e ar
contaminado pela fumaça das fábricas caracterizava a paisagem das cidades
satélites.
As propostas de
Ruskin e Morris e dos arquitetos modernistas, que pretendiam fazer das
cidades uma segunda natureza com um estilo florido e curvilíneo constituíam
antes que uma solução, um escape, uma ilusão que escondia os graves
problemas dos ambientes urbanos. Por este motivo no final do século o
interesse dos arquitetos se deslocou para o planejamento urbanístico.

3.2.
A Escola de Chicago
Em Estados
Unidos as cidades não tinham os problemas europeus, as grandes dimensões do
continente norte-americano se traduziram também em grandes espaços para as
edificações, para os ambientes urbanos e vivendas onde a sociedade se
organizava de acordo às funções espaciais. Os arquitetos modernistas, como
os artistas, recusavam o ecleticismo histórico carregado de formas despidas
de significado e propunham uma arquitetura mais funcional na nova sociedade
moderna. A mudança da arquitetura tradicional ao urbanismo se processou no
interior da pesquisa artística.
Em 1871 a
cidade de Chicago, que numa época do ano apresenta altas temperaturas e
seca, sofreu um grande incêndio que destruiu uma parte da
cidade. As casas eram todas feitas de madeira e nos edifícios a estrutura e
o acabado também eram deste material. Para a reconstrução foi criado um plano de planejamento urbano que
atraiu muitos arquitetos modernistas e que fizeram da nova Chicago uma das
mais importantes da América. Entre eles estava Louis Sullivan que acreditava
numa autentica arquitetura americana adequada à nova forma de vida moderna.
Ele pensava que um edifício devia refletir seu próprio tempo e espaço e
manter uma relação dialógica com o meio ambiente natural. A arquitetura não
devia interromper o movimento da cidade, mas filtrar, intensificar e o
ornamento devia fazer parte da estrutura formal, não como um adereço. Para ele a
arquitetura devia seguir os princípios orgânicos da natureza:
“É
a lei das coisas orgânicas e inorgânicas, de todas as coisas físicas e
metafísicas, das coisas humanas e sobre humanas, de todas as verdadeiras
manifestações da mente, do coração e da alma, que a vida é reconhecida na
sua expressão,
que a
forma sempre segue à função,
é uma lei” Louis Sullivan.
Além
dos princípios estéticos e funcionais da sua arquitetura, o que levou
Sullivan à fama foram os
aranha-
céus. O uso de estruturas de ferro que se
iniciou com o Palácio de Cristal de Paxton, foi melhorado com a produção de
aço nos Estados Unidos. Este novo material, mais leve e maleável, permitia
elevar as construções até alturas nunca antes imaginadas. Sullivan e outros
arquitetos ligados a esta nova visão do espaço urbano ficaram conhecidos
como a Escola de Chicago.
Louis Sullivan Edifício
Wainwright 1891 e National Farmer’s Bank 1908
A nova
tecnologia arquitetônico da Escola de Chicago trazia muitas vantagens: as
vigas de aço eram a prova de fogo, as paredes se inserem na estrutura
deixando mais espaço, novos andares podem ser acrescentados e os muros
exteriores não são mais necessários para o sustento da estrutura pudendo ser
substituídos por janelas maiores. A partir de então edifícios cada vez mais
altos se levantaram, era a nova cidade moderna. Eram cidades que não tinham
o apego aos estilos históricos que na Europa se levantaram através dos
séculos desde o Império Romano.
3.3.
A Escola da Pradaria
Os jovens
arquitetos seguidores de Sullivan, entre eles Frank Lloyd Wright, formaram
um novo movimento arquitetônico inspirado nos seu pensamento que ficou
conhecido como a Escola da Pradaria (de pradeira). Para Wright os aranha
céus eram a expressão do poder político e acreditava que na América a
arquitetura devia ser livre de estilos históricos. Esta nova escola não
estava mais interessada no edifício, mas na casa, simultaneamente urbana e
natural com projetos a escala de território, não mais de cidade, se
inserindo na paisagem natural com formas geométricas. Estas casas formaram
os bairros que mais tarde ficaram conhecidos como subúrbios.

Frank Lloyd Wright,
Casa Kaufmann ou casa
da cascata, 1937
Clica na imagem para ver
vídeo da Casa da Cascata
Para Wright era
central o conceito de espaço e ambiente antes que o de matéria. As casas que
ele desenhava tinham fortes estruturas verticais e horizontais,
contraposição de planos, decoração manufaturada á vista, a planta era livre
e a estrutura articulada. Ele usava os materiais do lugar para manter a
relação com as características do local e acreditava que o design devia ir
no todo e nas partes. Da estrutura ao acabamento interno, ao mobiliário e os
objetos o estilo da escola da Pradaria favorecia a manufatura artesanal e o
uso de materiais rústicos. Com estas características conquistou uma
clientela rica que gostava do estilo Arts and Crafts.

Purcell & Elmslie, Casa
Bradley ("Aeroplano") Wood's Hole, MA, 1912
Fontes:
BURDEK, Bernhard E. Diseño:
Historia, teoría y práctica del diseño industrial. Barcelona: Gustavo
Gili, 1994..
ARGAN, Giulio
Carlo. Historia da Arte Moderna, do Iluminismo aos Movimentos
Contemporâneos Companhia das Letras, São Paulo, 1992.